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Por Ana Escosteguy y Nilda
Jacks
Número
57
No
han sido sólo los paradigmas,
sino los tercos hechos, los procesos sociales
de América Latina,
los que nos están cambiando el ‘objeto’
de estudio a los investigadores de comunicación.
Jesús Martín-Barbero
O presente
texto tem como objetivo mapear as tendências
dos estudos que privilegiam as relações
entre audiências e meios de comunicação,
apontando como e porquê tais reflexões
se desenvolveram no território latino-americano.
Depois de desenhar a paisagem na qual se desenvolveram
essas perspectivas, identificamos aquelas que
marcaram presença no contexto da América
Latina. Na seqüência, também,
destacamos alguns desenvolvimentos de caráter
nacional, ou seja, específicos a determinadas
regiões deste subcontinente. No entanto,
ao expor tal narrativa, não deixamos também
de problematizá-la, sobretudo, à
luz da tradição já constituída
na área.
O contexto
formativo
Em toda a América Latina, o final dos
anos 1960 marcou a afirmação de
uma literatura que denunciava o imperialismo
norte-americano e supunha a passividade dos receptores
diante dos meios de comunicação
de massa. Nas ciências sociais, a teoria
da dependência pretendia uma explicação
sobre os efeitos sócio-políticos
e econômicos da industrialização
tardia dos países periféricos.
Sua versão no campo da comunicação
gerou a teoria da dependência cultural
que, já na década de 70, adquire
visibilidade no contexto internacional. Tal produção
teórica volta-se para sua própria
realidade, residindo aí um motivo para
seu alastramento nesse território, bem
como sua longa duração como enfoque
teórico.
Em meados dos
anos 80, no entanto essa produção
teórica vai sofrer críticas e restrições
de distintos matizes. A partir daí a pesquisa
em comunicação começa a
revelar nítidos sinais de mudança,
decorrentes tanto da reflexão interna
ao campo da comunicação como das
ciências sociais em geral. Além
disso, as dinâmicas culturais, como por
exemplo, os embates gerados pela globalização
e suas transformações na experiência
social, contribuem para a renovação
teórica e metodológica do campo
da comunicação.
Entre essas
novas tramas em formação emerge,
e alcança destaque no âmbito interno1
e no circuito internacional2,
um enfoque que privilegia as conexões
entre comunicação e cultura e que,
sobretudo, busca capturar a experiência
dos sujeitos, no caso em tela, aquela referida
às práticas relacionadas aos meios.
A emergência dessa reflexão revela-se
entrelaçada com o contexto histórico
vivido na época, mas também com
as teorias circulantes no campo intelectual.
Sob este último prisma, articula-se a
um movimento teórico crítico que
expressava a passagem de um marxismo determinista
para um marxismo de corte gramsciano, configurando-se
em uma “reflexão alternativa às
análises funcionalistas, semióticas
e frankfurtianas predominantes até então”
(Lopes, 1999:13).
É nessa
mesma direção que Martín-Barbero
(1991:4) identifica “razões teóricas,
experiências culturais e fatos sociais
entrecruzados, catalizando um novo sentido dos
processos de comunicação nas sociedades
de fim de século”. Esta observação
consta da apresentação da 30ª
edição da Revista Diá-logos
de la Comunicación (FELAFACS), dedicada
à recepção, aos usos dos
meios e ao consumo cultural3,
o que evidencia a importância que adquiriu
tal movimento de renovação teórica
para pensar justamente as conexões entre
meios e sujeitos.
As razões teóricas, no caso latino-americano,
referem-se a insuficiência dos “modelos
importados”, largamente adotados nas pesquisas
até então, concebidos “em”
e “para” outras realidades e que,
sobretudo, não davam conta da vida cotidiana
e de seus agentes. Estes viviam, naquele momento,
as duas outras razões para a mudança
de rumo apontada por Martín-Barbero -
experiências culturais e fatos sociais
específicos - como, por exemplo, a redemocratização
da maioria dos países da região
e a ação de movimentos sociais
que levaram adiante as lutas contra a repressão
e a discriminação. Somam-se a isto
as mobilizações populares da sociedade
que lutavam pela apropriação de
bens e serviços e pressionavam o sistema
político a atender suas demandas sociais
(Escosteguy, 2001: 45).
Ainda no plano
explicativo, e de certa forma em sintonia com
aqueles que se dedicam à investigação
dos sistemas de comunicação, Guillermo
Orozco (1997: 130) diz que foi em um movimento
pela “desideologização dos
estudos em comunicação, principalmente
na emergente corrente de estudos empíricos
onde se recupera o papel do sujeito nas suas
múltiplas relações com os
diferentes meios de comunicação”,
que surgem os estudos latino-americanos de recepção.
Salienta-se que essa é a denominação
corrente no subcontinente, a qual não
se detém nas distintas clivagens teóricas,
diferentemente do plano internacional onde toda
a gama de investigações de tal
problemática pode ser chamada de estudos
de audiência. De acordo com essa circunstância
e especificidade do campo latino-americano da
comunicação, adotamos essa terminologia
neste texto.
As pesquisas
que empreenderam o conhecimento dos nexos entre
meios e audiências tiveram um papel fundamental,
pois despontaram com a premissa de que “a
recepção não é apenas
uma etapa do processo de comunicação.
É um lugar novo, de onde devemos
repensar os estudos e a pesquisa de comunicação”,
diz Jesús Martín-Barbero (1995:39),
formulador da renovação recém
citada. Para ele, esta premissa foi explorada
de formas variadas, fato que impulsionou o desenvolvimento
e o reconhecimento da pesquisa produzida no subcontinente.
Observa, ainda, que “as chaves da trama
conceitual da investigação da recepção
na América Latina” são quatro:
os estudos da vida cotidiana, os estudos sobre
consumo, os estudos sobre estética e semiótica
da leitura e os estudos sobre a história
social e cultural dos gêneros (Martín-Barbero,
1995: 58).
De modo bem
mais abrangente e levando em consideração,
especialmente, as alterações no
campo da comunicação, Lopes (2002:29)
avalia que foi
Sobretudo
dentro da temática das culturas populares
que uma teoria complexa e multifacetada da recepção
começou a ser desenvolvida, tendo como
eixos básicos de reflexão o deslocamento
dos meios às mediações
(Martín-Barbero, 1987) e os processos
de hibridização cultural (García
Canclini, 1990) (grifos do original).
Esta é
a chave explicativa que usualmente se encontra
incorporada entre aqueles que se dedicam à
questão, pelo menos no cenário
brasileiro.
São essas
mesmas formulações teóricas
que vêm sendo destacadas no âmbito
internacional. Por exemplo, no âmbito norte-americano,
Horace Newcomb (2000) identifica na vanguarda
da pesquisa mundial em comunicação
a produção latino-americana, citando
tanto Martín-Barbero quanto Néstor
García Canclini, pois considera que ambas
as reflexões são frentes de inovação,
contrariamente à idéia de que a
pesquisa fora do “primeiro mundo”
é atrasada. Destaca, ainda, que os pesquisadores
da região desafiaram a noção
difundida de que são países vítimas
do sistema de comunicação global,
portanto sujeitos à homogeneização
e subjugação, inclusive, teórica.
No continente
europeu, destaca-se a análise de Philip
Schlesinger e Nancy Morris (1997) que identificam
em Martín-Barbero, García Canclini,
Jorge González e, também, em Renato
Ortiz trabalhos inovadores. Tais formulações,
dizem aqueles pesquisadores (1997: 61), “destacam
o modo pelo qual a cultura popular escapa ao
poder das indústrias midiáticas
internacionais e dá vazão a demandas
e interesses populares”. Também,
na Europa, o americano Robert White (1994), professor
da Universidade Gregoriana de Roma, distingue
o trabalho profícuo de Martín-Barbero,
na sua conhecida proposição das
mediações. Reconhece-o como inserido
no marco de uma “hegemonia negociada”,
portanto, vinculado ao pensamento de Antonio
Gramsci. Além disso, ressalta a importância
para a análise cultural de outra categoria
barberiana, a mestiçagem cultural. Ainda
no contexto de um pensamento latino-americano,
White (1994) cita os trabalhos de Jorge González,
sob o mesmo prisma da exploração
do conceito de hegemonia que, por sua vez, embasa
a idéia de frentes culturais, e os de
Guillermo Orozco porque explora empiricamente
as interações entre diferentes
grupos que configuram os cenários de recepção
televisiva.
No entanto,
para a pesquisa latino-americana chegar a essa
posição de destaque, Guillermo
Orozco (2002:15) avalia que ela passou por
Um parto longo
e difícil. Longo porque foram necessários
vários anos para desvincular-se da racionalidade
própria dos estudos dos efeitos.... Difícil,
porque os estudos de recepção
tiveram que construir uma legitimidade científica
à ‘ferro e fogo’ e sobreviver
em um ‘campo minado’ por outras
correntes de pensamento.
Além
disso, emergiram em um cenário voltado
prioritariamente para o estudo dos meios e, mais
tarde, tiveram que resistir para não cair
na tentação puramente culturalista.
Esta emergência aconteceu quando uma série
de condições internas e externas
ao campo científico combinou-se e propiciou
a frutificação de uma discussão
propriamente latino-americana.
Para entender
essas as novas circunstâncias sócio-políticas
e culturais, era necessário enfocar aspectos
pouco ou inadequadamente considerados pelas perspectivas
teóricas em vigor na época. Portanto,
ganharam relevância o contexto, as interações,
os sujeitos e com isto os estudos de recepção.
Na visão de Orozco (2002:16), entretanto,
a riqueza da produção latino-americana
se define quando se estabelece um diálogo
entre os estudos que foram realizados antes da
década de 1980, sob influência das
teorias funcionalistas e semiológicas,
e os que se desenvolveram a partir da apropriação
do conceito de hegemonia, concebido por Gramsci4,
compondo uma visão cultural dos meios
de comunicação. Contudo, nem todas
as propostas emergiram a partir de tal conjugação.
As
tendências
É nesse contexto que passamos a identificar
as principais correntes e/ou modelos teórico-metodológicos
que dão atenção às
práticas simbólicas dos indivíduos
em contato com os meios. Aqui seguimos a identificação
proposta por Nilda Jacks (1996a, 1996c), na medida
em que a circulação desta tipologia
também teve repercussão entre os
pesquisadores da área (por exemplo, Lozano,
1996; Saintout, 1998; Grimson, 1999). Porém,
dado a abrangência que tais práticas
simbólicas e usos dos meios podem alcançar,
ressalva-se que nem todas as correntes apresentadas
podem ser vistas como vertentes de estudos de
recepção, mas de perspectivas que
exploram e capturam a experiência dos sujeitos.
Além disso, algumas delas mais do que
correntes já firmadas, constituem-se em
proposições conceituais e metodológicas.
Consumo cultural
Assume esta denominação a proposição
de García Canclini que tem como objetivo
construir uma teoria sociocultural do consumo.
Para tal, o autor conceitua o consumo como "o
conjunto de processos socioculturais nos quais
se realiza a apropriação e os usos
dos produtos" (Canclini, 1993:24), superando
a noção de que o consumo é
um ato individual, irracional, movido pelo desejo,
no qual são exercitados apenas gostos
pessoais. Apesar deste entendimento geral sobre
o consumo, distingue-o do consumo cultural quando
neste “o valor simbólico prevalece
sobre os valores de uso ou de troca, ou onde
pelo menos estes últimos se configuram
subordinados à dimensão simbólica”
(IDEM:34). Tal distinção, para
García Canclini, é fruto da relativa
autonomia alcançada pelo campo artístico
e intelectual, na Modernidade.
Neste recorte,
deixa para trás concepções
derivadas do racionalismo frankfurtiano e do
mecanicismo economicista para incorporar a complexidade
da vida cotidiana, o espaço da criatividade
do sujeito e a possibilidade interativa na relação
com os meios de comunicação, dado
a ênfase na dimensão simbólica
do processo de consumo.
A localização
do consumo como parte integrante do ciclo da
produção e da circulação
dos bens simbólicos, torna mais visível
seus complexos mecanismos, os quais extrapolam
a simples idéia de "compulsão
consumista". Entretanto, isto não
dá poder total ao consumidor, apenas organiza
as razões, condições e cenários
em que o consumo é produzido, revelando
os sentidos que o constituem.
A proposta é
interdisciplinar, pois conclama especialmente
os sociólogos, comunicólogos e
antropólogos para estudarem o fenômeno
do consumo, vinculando vários aspectos:
econômicos, sociológicos, antropológicos,
psicanalíticos, em seus desdobramentos.
García
Canclini (1991: 6) propõe a articulação
de seis teorias, sob o argumento que nenhuma
é auto-suficiente para explicar o consumo,
e adverte que aí podem incluir-se processos
de comunicação e recepção
de bens simbólicos. São elas:
a) as teorias
de natureza economicista que prevalecem entre
autores marxistas e privilegiam a racionalidade
econômica. Elas ajudam a compreender
as estratégias de mercado, através
da racionalidade dos produtores, que deverá
ser confrontada com a dos consumidores. É
o "lugar de reprodução da
força de trabalho e da expansão
do capital";
b) as correntes que se vinculam à sociologia
política e urbana e enfocam a racionalidade
sócio-política interativa do
consumo, através da qual ele é
visto, pelo próprio consumidor, como
conseqüência de suas demandas e,
pelo produtor, como a busca de lucro e concretização
de seu empreendimento. Esta perspectiva supera
a visão unidimensional da teoria anterior,
pois evidencia que o consumo é o "lugar
onde as classes e os grupos competem pela apropriação
do produto social";
c) as correntes que assumem a perspectiva dos
estudos de Pierre Bourdieu e Jean Baudrillard,
entre outros, cuja ótica é a racionalidade
estética e simbólica, portanto,
o consumo configura-se como um espaço
onde se constituem distinções
entre as classes, resultantes de modos diferenciados
de uso e apropriação dos bens;
d) as correntes que consideram o consumo como
fator integrador das classes, unindo-as através
de produtos trans-culturais como o futebol,
a telenovela, o samba, entre outros, embora
com apropriações diferenciadas.
Trata-se do consumo visto pela racionalidade
integrativa e comunicativa, ou seja, atuando
como elemento socializador, mesmo quando mantém
determinadas distinções. Nesta
perspectiva, o consumo é visto como um
“lugar para identificar e analisar o sistema
de integração e comunicação"
que é capaz de gerar, portanto, aspecto
importante para uma teoria sócio-cultural
do consumo;
e) as correntes que têm uma visão
irracional do consumo, pois concebem-no como
fruto do desejo, que não é saciável
por nenhuma instituição social.
Mesmo sendo de difícil apreensão
empírica, a racionalidade do desejo
deve ser considerada, não de forma
exclusiva como o fazem os psicanalistas e Baudrillard,
por exemplo, mas como um dos aspectos importantes
do consumo. Essa esfera é vista como
"cenário de objetivação
dos desejos", que deve ser analisado em
condições sócio-econômicas
concretas;
f) a perspectiva antropológica, que tem
uma concepção ritualística
do consumo e o vê como uma prática
coletiva, através da qual são
selecionados e fixados seus significados sociais,
muito além da satisfação
de necessidades e desejos. "As mercadorias
servem para pensar" diz Mary Douglas (1990),
pois o consumo dá significado aos objetos,
sendo esta a chave teórica dada por esta
vertente, portanto, é um "processo
ritual" e sua racionalidade é
cultural.
Embora bastante
instigadora, a proposição ainda
carece do estabelecimento de “princípios
teóricos e metodológicos transversais
que os combinem” (Canclini, 1993: 33),
ou seja, estão por ser resolvidos os pontos
de articulação entre as teorias
sobre o consumo, em especial, a incorporação
da visão psicanalítica. Nesse sentido,
esta perspectiva não se constitui propriamente
numa corrente, mas se apresenta como uma formulação
para analisar de forma mais inclusiva o processo
do consumo, em especial o cultural, que passa
a ser visto como espaço fundamental na
constituição das identidades culturais
das diferentes classes sociais. Dado o referido
foco, privilegia a experiência dos sujeitos
como consumidores o que nem sempre é coincidente
com o processo de recepção midiática
ou até mesmo com a idéia de membro
de uma audiência.
Mesmo assim,
no plano empírico, García Canclini
e uma equipe realizaram uma pesquisa sobre o
consumo cultural na cidade do México,
cujo relato (García Canclini e Piccini,
1993) indica a comprovação de certas
regularidades como a diminuição
de algumas atividades culturais próprias
da vida urbana, o retraimento a formas privadas
de consumo cultural e, de certa maneira, a intensificação
das redes cotidianas da vida familiar. Essa investigação,
entretanto, não evidencia a exploração
empírica da combinação dos
seis ângulos recém mencionados.
Ao contrário, apenas desenha tendências
comportamentais e hábitos, através
de interpretações macro, de caráter
sociocultural, a partir das estatísticas
obtidas (Escosteguy, 1997). Até onde nos
é permitido afirmar a proposição
teórica recém delineada ainda não
foi implementada empiricamente.
De outro lado,
é importante apontar que a contribuição
desse autor que mais repercute e é apropriada
nos estudos que enfocam a audiência está
concentrada em seu livro Culturas híbridas
– Estrategias para entrar y salir de la
modernidad (1989). Em relação
à hibridez cultural, pode-se dizer sinteticamente
que é um conceito que não adquire
sentido isoladamente, somente articulado a um
conjunto maior, onde modernidade e modernização
são dois deles. Do ponto de vista da produção
sugere a existência de uma fluída
interconexão entre culto, popular e massivo.
Do ponto de vista do consumo, pode ser lido como
indicando uma combinação de lógicas
que tanto vem do mercado quanto do(s) público(s).
Frentes culturais
É um modelo analítico concebido
pelo mexicano Jorge González, resultante
de estudos empíricos sobre a relação
da cultura de massa e popular com seus públicos,
desde um ponto de vista socio-antropológico,
ou seja, desde a relação com a
multi-dimensionalidade espacial e temporal destas
distintas formas simbólicas com a sociedade.
Esta perspectiva
tem como premissa básica uma adaptação
do conceito gramsciano de hegemonia, para explicar
como as coalizões de poder dos grupos
dominantes ganham o consenso de grupos subordinados,
através da incorporação,
na esfera pública, de símbolos
culturais destes grupos, de maneira a possibilitar
sua identificação. Também
se utiliza da noção de campo proposta
por Bourdieu, pois entende a cultura como um
sistema de forças desenvolvido na disputa
pela hegemonia cultural5.
O “campo bourdiano” é central
na perspectiva de González, por isso recomenda
que a indústria cultural seja analisada
sempre em tensão variável com um
sistema hierarquizado de forças externas,
que operam estrutural e conjunturalmente, a partir
da composição do campo nacional
do espetáculo; em segunda instância,
com o mercado mundial de comunicação
e, também, com o campo do poder configurado
no espaço social global do país.
Assim, a abordagem
da identidade sociocultural efetivada por esta
vertente, considera a cultura como arena para
confrontação das mais diversas
"frentes culturais", cada qual disputando
o consentimento/aprovação e reconhecimento
de sua identidade cultural por outras "frentes".
Em termos dos meios massivos, considera-os imprescindíveis
para entender a cultura contemporânea,
também no que concerne ao âmbito
das culturas populares, justamente porque há
um ponto em que estas se "tocam" com
as indústrias culturais.
Este é
um aspecto relevante para o estudo da recepção,
pois repercute na busca de definição
ou redefinição das audiências
no que diz respeito a suas identidades socioculturais
diante da cultura massiva. Este movimento, que
tem como objetivo manter ou conquistar o reconhecimento
público ou de outros grupos, é
importante para compreender a relação
das audiências com os meios e o papel destes
na definição das identidades contemporâneas,
embora a proposta de González seja mais
ampla que o estudo das audiências.
Para ele o pressuposto
que norteia o estudo da audiência diz que
“todo texto ou discurso especializado que
emana dos campos nunca é recebido por
indivíduos isolados, porque sempre estão
inseridos nas diversas redes ideológicas
que constituem as formas elementares de convivência
social, em cujo seio se gera, se digere, se desconstrói,
se recicla e se reconstrói o discurso
dos campos, todos os dias, dia após dia”
(GONZÁLEZ, 1994: 265).
A proposta metodológica
deste modelo é bastante complexa, uma
vez que abrange todo o processo de comunicação
e é chamada por González de "polifônica".
Trabalha quantitativa e qualitativamente utilizando
um variado instrumental que vai das descrições
etnográficas à análise estatística
multivariada, o que torna imprescindível
uma base de dados e processamento computadorizado,
pois demanda a análise de dados relativos
à produção, mensagem e recepção,
em diversos níveis.
Em termos da
recepção propriamente dita propõe
duas táticas complementares: uma extensiva
para identificar os traços sócio-demográficos
(quem, quantos, onde, quais etc), e outra intensiva
para conhecer com maior densidade os processos
de leitura social na vida cotidiana, por isso
o núcleo de estudo é a família.
Aqui, é explorada a técnica de
histórias de família, às
vezes seguida de histórias de vida.
Para sintetizar
e interpretar a grande quantidade de informações
que o modelo propõe vale-se da “integração
hermenêutica profunda”6,
o que significa por em relação
as três áreas em um jogo de seis
pares: produção-leitura, produção-mensagem,
leitura-produção, leitura-mensagem,
mensagem-produção e mensagem-leitura.
González defende, portanto, o compromisso
com a interpretação da cultura,
reconhecendo sua especificidade semiótica,
mas sem perder de vista sua condição
extra-semiótica, que segundo ele, poderia
ser chamada de para-semiótica.
Recepção
ativa
Proposta desenvolvida pelo CENECA7,
através do Programa de Educación
para la Recepción Activa8
de la Televisión, fruto da preocupação
com a crescente influência de interesses
comerciais na televisão chilena, durante
os anos 1970 (Saintout, 1998:141), quando ainda
era pública. A educação
para a recepção proposta por esta
ONG deve ser entendida, portanto, neste movimento
de transformação do sistema televisivo
chileno.
Os pressupostos
teóricos que ajudaram a refutar os modelos
de análise linear e informacional foram
testados empiricamente, explorando a relação
entre mensagens e telespectadores. Os principais
são: a influência grupal na construção
do sentido para o que é apropriado da
televisão e, do ponto de vista da mensagem,
sua hetero- discursividade" por concentrar
muitas manifestações da cultura
contemporânea.
Entre as hipóteses
comprovadas sobre a influência cultural
da TV estão: um multi-relacionamento com
o meio, estabelecido através do tempo
e da programação diversificada
(recepção construtivista); relacionamento
emocional mais do que racional e analítico,
determinado também pelo gênero de
programação; a constatação
de que a recepção domiciliar requer
uma estética própria (diferente
do cinema) determinada por outro tipo de fruição
e pela relação com o meio; a importância
do contexto sociocultural (práticas sociais),
o qual sobrepõe o referente e a intenção
do emissor na relação da audiência
com a televisão. Estas conclusões
estão baseadas em pesquisas empreendidas
sob os conhecimentos da epistemologia genética
e os estudos de Jean Piaget sobre o desenvolvimento
infantil.
Os deslocamentos
teóricos realizados pelos pesquisadores
do CENECA iluminaram zonas opacas do fenômeno
da recepção e colocaram em dúvida
o poder onipotente e monolítico da TV.
Rechaçaram a visão do receptor
como "recipientes" e do contexto como
variáveis intervenientes, pois entenderam
que a recepção e a influência
cultural da televisão precisam ser historicizadas
e que a recepção é um processo
construtivo, dialético e conflitivo. Segundo
Valério Fuenzalida, então coordenador
do projeto, se não fosse assim, seríamos
levados a entender “o receptor como um
produto ou resultado que poderia ser deduzido
de suposições causais-deterministas
do emissor” (apud Saintout, 1998: 142).
Já, do
ponto de vista da metodologia, Maria Elena Hermosilla
(s.d.:15), uma das pesquisadoras do Programa,
considerava que essas estratégias buscam
a exploração da "relação
concreta constituída pela interação
entre um texto televisivo (mensagem, programa)
e os receptores, a qual denominamos significado
existencial". Nessa mesma direção,
Fuenzalida acrescenta que “a metodologia
desenvolvida estimula a criatividade, a compreensão
crítica da realidade, a valorização
da solidariedade e da participação
social” (Saintout, 1998:143).
Ao mesmo tempo
que oferece uma instrumentalização
para captar a relação do receptor
com as mensagens televisivas, a metodologia utilizada
quer intervir pedagogicamente para construir
uma atitude reflexiva diante dos meios e as mensagens
massivas. Nas palavras de Fuenzalida (1988: 81),
a recepção ativa almeja,
Em alguns
casos, formar receptores mais seletivos frente
à programação televisiva;
em outras ocasiões, pretende ‘alfabetizar’
para a familiaridade com a linguagem televisiva
ou, se fosse possível, manejar os equipamentos
para desmitificar a tecnologia; em outros casos,
deseja reforçar certos valores considerados
positivos e reconhecer conscientemente conteúdos
televisivos indesejáveis ou social e
culturalmente alienantes.
As críticas
a esta perspectiva repousam na artificialidade
da situação de pesquisa, pois foi
concebida para ser realizada através de
oficinas práticas, longe da situação
normal de recepção, uma vez que
o objetivo principal deste tipo de pesquisa é
a educação das audiências.
Uso social
dos meios
É uma concepção de Martín-Barbero
para entender a relação entre receptores
e meios, que parte do estudo das articulações
entre as práticas de comunicação
e os movimentos sociais, observando as diferentes
temporalidades e as pluralidades de matrizes
culturais, constituindo-se, portanto, num possível
desenvolvimento de sua formulação
maior, a perspectiva das mediações.
A proposta nasce da necessidade de entender a
inserção das camadas populares
latino-americanas no contexto de subdesenvolvimento
e, ao mesmo tempo, de um processo acelerado de
modernização, que implica no aparecimento
de novas identidades e novos sujeitos sociais,
forjados, em especial, pelas tecnologias de comunicação.
Na verdade,
esse autor, de forma especial através
de De los medios a las mediaciones (1987),
estava propondo um debate com os intelectuais
latino-americanos dos anos 1970 que trabalhavam
dentro da ótica de uma concepção
reprodutivista de cultura. Criticou o mediacentrismo
a que os estudos de comunicação
estavam - ou ainda estão - vinculados,
propondo uma outra abordagem do processo comunicativo.
A comunicação, segundo Martín-Barbero,
assume o sentido de práticas sociais onde
o receptor é considerado produtor de sentidos
e o cotidiano, espaço primordial da pesquisa.
De um modo geral, trata-se de ver a comunicação
a partir da cultura e atravessar sua proposta
de investigação de uma aproximação
antropológica, pois o cotidiano tem valor
histórico para compreender a sociedade
(Escosteguy, 2004).
Os "usos",
portanto, são inalienáveis da situação
sociocultural dos receptores que reelaboram,
ressignificam e ressemantizam os conteúdos
massivos, conforme sua experiência cultural,
suporte de tais apropriações. Ao
considerar o receptor também como produtor,
o autor revisa a noção de consumo,
dizendo que
Não
é só reprodução
de forças, como também produção
de sentidos: lugar de uma luta que não
se esgota na posse dos objetos, pois passa ainda
mais decisivamente pelos usos que lhes dão
forma social e nos quais se inscrevem demandas
e dispositivos de ação que provêm
de diferentes competências culturais (Martín-Barbero,1987:
231).
Como forma de
captar as experiências culturais onde elas
se concretizam, Martín-Barbero (1987)
propõe o estudo de três tipos de
mediações: a cotidianidade familiar,
a temporalidade social e a competência
cultural. Conceito fundamental em Martín-Barbero,
mediação deve ser entendida como
uma forma de fugir da razão dualista,
superar a bipolaridade ou a dicotomia entre produção
e consumo, ou ainda, entre as lógicas
da produção e a lógica dos
usos. No entanto, essa opção traz
uma certa ambigüidade adquirida pela palavra
devido a seus usos anteriores9.
No plano epistemológico, a crítica
de Martín-Barbero à razão
dualista muda o lugar a partir do qual as perguntas
sobre a comunicação vão
ser elaboradas, daí sua proposição
de re-ver o processo inteiro da comunicação.
Mesmo assim,
as mediações, conforme Martín-Barbero,
produzem e reproduzem os significados sociais,
sendo o "espaço" que possibilita
compreender as interações entre
a produção e a recepção.
As mediações estruturam, organizam
e reorganizam a percepção da realidade
em que está inserido o receptor, tendo
poder também para valorizar implícita
ou explicitamente esta realidade. Por essa razão,
a atenção concentra-se nos movimentos,
nas dinâmicas e daí que “a
pesquisa sobre os usos nos obriga, então,
a deslocar-nos do espaço dos meios ao
lugar em que se produz sentido” (IDEM:213).
Esse é
o lugar das práticas sociais, cuja "entrada"
para Martín- Barbero (1990:12) pode se
dar pela dimensão da sociabilidade, da
ritualidade e da tecnicidade. A primeira diz
respeito a apropriação cotidiana
da existência fora da ordem da razão
institucional, cuja dinâmica tem a capacidade
de fissurar o sentido hegemônico através
"da multiplicidade de modos e sentidos em
que a coletividade se faz e se recria, da diversidade
e da polissemia da interação social".
A segunda, trata-se da forma que adquire a sociabilidade
para garantir a repetição e a operacionalidade,
na busca do sentido. A terceira, a tecnicidade,
é o "organizador perceptivo"
que articula as inovações à
discursividade nas práticas sociais, cuja
dinâmica têm materialidade histórica.
Isto é, a técnica é dimensão
constitutiva da comunicação, a
qual transforma as práticas sociais originando
novas formas de sociabilidade.
Dado que a proposta
do autor, publicada em 1987, foi apresentada
como premissa a ser pesquisada, ele próprio
foi reformulando sua reflexão. Na seqüência,
em 1990, identifica as mediações
recém citadas e, em 1998 e 1999, novas
modificações são apresentadas.
Em 1998, no
que chama de “pistas para entrever meios
e mediações”, propõe
observar as mediações que se estabelecem
entre comunicação, cultura e política.
Dessa forma, identifica, entre as matrizes culturais
e as competências de recepção,
a existência de diversas formas de sociabilidade,
constituídas no cotidiano e que remetem
à mudanças na sensibilidade e na
subjetividade dos atores; entre as matrizes culturais
e as lógicas de produção,
a institucionalidade, lugar de enfrentamento
de interesses do Estado com os dos cidadãos;
entre as lógicas de produção
e os formatos industriais, a tecnicidade; e entre
os formatos e as competências de recepção,
a ritualidade. Já em 1999, concentra seu
olhar na análise da TV, identificando
a tecnicidade, isto é, a técnica
como constitutiva das práticas sociais,
e a visualidade como um novo regime que introduz
alterações no estatuto epistemológico
do saber.
Metodologicamente,
o estudo das mediações implica
em superar a delimitação rígida
entre disciplinas, além, é claro,
da investigação centrada nos meios.
Do ponto de vista que interessa aqui, a atenção
recai sobre os elementos que dão especificidade
ao uso dos meios e de suas mensagens, portanto,
no caso do uso social dos meios, sobre o contexto
da audiência. A crítica corrente
destaca, no entanto, que o avanço das
categorias analíticas não é
acompanhado, na mesma proporção,
pelas discussões de estratégias
e técnicas operacionais.
Modelo das
multimediações
O enfoque integral da audiência ou modelo
das multimediações10,
desenvolvido por Guillermo Orozco, tem como propósito
seguir os pressupostos gerais apresentados acima,
além de integrar o conceito de "regra"
da teoria da estruturação de Antony
Giddens11.
A pergunta que
orienta este esforço teórico-metodológico
é: "como se realiza a interação
entre televisão e audiência",
cuja resposta começou a ser buscada na
vertente criada pelos estudos culturais britânicos
e também por autores latino-americanos
como Fuenzalida e Hermosilla, já comentados.
Investigar nesta
linha implica assumir que a audiência é
composta por sujeitos e considerá-la em
"situação", portanto,
condicionada individual e coletivamente. Implica
vê-la em constituição por
processos variados, e em constante diferenciação.
Considerar, portanto, a recepção
um processo, resultante da interação
receptor/ televisão/ mediações,
onde as últimas entram no jogo contínuo
do ato de ver TV, mas que ao mesmo tempo o extrapola.
A TV, nesse
sentido, também é uma mediação,
como instituição social produtora
de significados que ganham ou não legitimidade
frente à sua audiência. Além
de ser um meio tecnológico de reprodução
da realidade, também a produz, provocando
reações racionais e emocionais
nos receptores.
O receptor,
por sua vez, também realiza mediações,
de caráter psicológico, determinadas
pelas de caráter socioculturais, em um
processo constante e dialético. Orozco
as chama de mediações individuais,
as quais se subdividem em cognitiva e estrutural.
A mediação
cognitiva é um conjunto de fatores que
influem na percepção, processamento
e apropriação de elementos/ acontecimentos
que estão diretamente relacionados com
a aquisição de conhecimento (informações,
valores, crenças, emoções
etc.).
A estrutural
é constituída pela idade, sexo,
religião, escolaridade, estrato sócio-econômico,
etnia etc. São elementos identitários
que servem de referência ao receptor, conformando
sua maneira de pensar e agir, ou seja, são
fatores que também entram no processo
de construção do conhecimento e
de produção de sentido.
Atua no momento
da recepção, ainda, a mediação
situacional, cujo estudo pode demonstrar a forma
e o sentido deste ato. Ela pode identificar como
a emissão televisiva encontra o receptor:
sozinho ou acompanhado, com atenção
exclusiva ou disperso, trocando considerações
com outros telespectadores ou não, no
espaço social ou íntimo da casa,
etc.
Por ser muito
mais que um telespectador, as instituições
a que pertencem o receptor - escola, empresa,
igreja, partidos, família etc - são
fundamentais para entender o processo de recepção.
As mediações institucionais são
constituintes da relação do sujeito
com o discurso televisivo, pois com elas o sujeito
interatua, intercambia, produz e reproduz sentidos
e significados.
A mediação
videotecnólogica, parte intrínseca
do processo de recepção televisiva,
se refere à características específicas
da televisão, que como já foi dito
também é uma mediação
institucional. A televisão como meio eletrônico
produz uma série de mecanismos que configuram
seu discurso: alto grau de representabilidade
e de verossimilhança (que permite naturalizar
seu discurso "ante os olhos da audiência"),
a programação, os gêneros,
a publicidade, etc.
Por último,
Orozco considera fundamental, seguindo Martín-Barbero,
o que denomina a mediação cultural,
por ser onde as demais mediações
tomam seu lugar e onde se configuram, pois aí
todas as informações se originam,
o consumo se efetiva, o sentido é produzido
e a identidade se constrói. Aí
também se elabora o processo cognitivo,
cujo mecanismo não funciona independente
do contexto cultural, que em boa medida o condiciona.
De forma similar, as mediações
estruturais, situacionais e institucionais estão
diretamente relacionadas com a cultura e as subculturas
a que pertence o sujeito-receptor.
Embora tenha
relevância conceitual, a mediação
cultural não está desenvolvida
metodologicamente no modelo. Entretanto, categorias
analíticas como "comunidade de apropriação",
"comunidades de referência ou de “reapropriação"
e "comunidades de interpretação
e/ou interpretativa"12,
permitem a exploração empírica
e analítica desta mediação.
Contudo, é
importante reforçar que, segundo Orozco,
o modelo das multimediações parte
da noção de mediação
delineada por Martín-Barbero, aterrizando-a
no plano empírico, isto é, oferecendo
estratégias de operacionalização
de distintas mediações. No entanto,
de forma paulatina, observa-se que estas vêm
sendo entendidas como influências no processo
de recepção. Neste caso, segundo
a crítica, não conservam o sentido
original, por isso, sua proposta descreve uma
série de fontes de influências para
compreender a relação da audiência
com os meios massivos, o que não é
objetivo do outro autor.
Outras
visões da área mapeada
Este mapeamento certamente não contempla
todas as correntes e propostas desenvolvidas
na América Latina, ou por terem tido um
desenvolvimento autônomo e\ou à
margem das principais correntes aqui apresentadas
ou porque ainda estão por ser mapeadas
e analisadas. Mesmo assim, encontramos outra
versão sobre o desenvolvimento desta área
de estudos no subcontinente latino-americano.
O chileno Guillermo Sunkel (1999: xi-xxix) os
classifica genericamente de estudos do consumo
cultural e, a partir de uma análise teórico-metodológica,
identifica dois momentos do desenvolvimento do
campo: o primeiro, registra o deslocamento do
estudo das mensagens como estrutura ideológica,
que dominou o campo durante a década de
1970, para o estudo da recepção
crítica, que aconteceu no início
da década de 80; o segundo, ultrapassa
a recepção crítica, que
segundo ele foi desenvolvida no Chile13,
e avança em direção ao estudo
do consumo cultural, enquadrado na perspectiva
dos estudos culturais latino-americanos14.
Segundo o autor, o que diferencia a análise
do consumo da recepção crítica
é a lógica não intervencionista
e o distanciamento do tema da ideologia (Sunkel,
1999: xvii), praticados pela primeira perspectiva,
observando três marcos naquela construção
teórica: pesquisa sobre o público
da arte, estudo comparativo sobre consumo cultural
em grandes cidades latino-americanas, e estudos
qualitativos do consumo de gêneros narrativos
e meios de comunicação.
Quase dez anos
depois dos primeiros esforços para identificar
tais vertentes, observa-se que a investigação
latino-americana agora sim forma uma trajetória
que pode ser avaliada. Dentro desse espírito,
podemos dizer que as correntes do consumo cultural
e das frentes culturais não se consolidaram
como referenciais teórico-metodológicos
para análise especificamente da recepção,
pois como já foi sinalizado antes, configuram-se
muito mais como contribuições compreensivas
da cultura contemporânea, onde se destaca
a experiência dos sujeitos, do que como
propostas de análise do processo de recepção
midiática.
Também
destacam-se que a recepção ativa
e o enfoque integral da audiência que,
embora tenham como alvo públicos diferentes,
procuram uma articulação entre
educação para os meios e os estudos
de audiência, formulada de tal forma que
seja capaz de conhecer mas, também e principalmente
propor uma intervenção junto aos
próprios receptores. É importante
ressaltar que o enfoque integral da audiência
se consolidou como modelo metodológico
de implementação da teoria das
mediações, pelo menos no campo
da comunicação. Entretanto, é
recente a crítica de que há um
certo descompasso entre uma e outra perspectiva
teórica.
Finalizando
esta seção, queremos apenas reiterar
que as formulações de Martín-Barbero
repercutiram como o principal influxo que destravou
um questionamento das teorias dominantes na pesquisa
latino-americana em comunicação,
em especial a partir de meados dos 80, renovando
e fertilizando o terreno da pesquisa de recepção.
Segundo Orozco (1997: 175), a perspectiva das
mediações
Constitui-se
como uma contribuição latino-americana
para a geração de conhecimentos
sobre comunicação, ao mesmo tempo
que é talvez o principal ponto de confluência
contemporânea de vários autores
da região que trabalharam empiricamente
a relação dos meios com os sujeitos
sociais, com suas audiências.
Em sintonia
com essa avaliação, Maria Immacolata
Lopes (2002: 27- 36) ressalta os esforços
de experimentação metodológica,
desenvolvidos por equipes de pesquisadores da
região, para realizar pesquisas empíricas
compatíveis com a complexidade daquela
perspectiva teórica. Para ela, esta preocupação
diferencia a pesquisa latino-americana da tendência
internacional, a qual teria “autonomizado
em excesso a esfera cultural e desestruturalizado
a análise”, enquanto outros autores
estendem essa mesma crítica ao conjunto
dos estudos latino-americanos (Calleti, 1992;
Herrera, 1994).
Desenvolvimentos
regionais
Mesmo sendo possível a identificação
de variadas correntes, como as delineadas anteriormente,
cada região do território latino-americano
seguiu com maior ou menor grau de institucionalização
os rumos delineados até aqui, ou mesmo
pesquisadores, individualmente, construíram
trajetórias próprias. Por exemplo,
no Uruguai, o desenvolvimento da pesquisa não
está dimensionado como na Argentina ou
no Brasil, o que não significa a inexistência
de estudos sobre a problemática em foco.
Entre as pesquisas que lá foram realizadas,
está a de Rosário Sánchez
Vilela, intitulada Sueños cotidianos.
Telenovela y oralidad (2000). Trata-se de
um estudo de recepção da telenovela
brasileira em território uruguaio, centrado
na construção de sentido em torno
das personagens femininas, portanto, o foco concentra-se
na interpretação de mulheres que
“consomem” esse gênero televisivo.
O mesmo pode-se dizer do Peru onde a pesquisadora
Maria Teresa Quiróz tem se destacado pelos
estudos sobre a relação dos jovens
com os meios de comunicação, ora
tematizando a violência (Quiróz,
1994) ora o sentido pedagógico da relação
com os meios (1993) e, em outras ocasiões,
a introdução das novas tecnologias
(1996). Seu contexto de estudo é a relação
entre comunicação e educação,
tendo como panorama as mudanças sociais
que acarretam um novo debate sobre as instituições
formadoras dos jovens e crianças.
De toda forma,
o que se observa é a quase ausência
de trabalhos que compilem o que já foi
feito sobre o tema em cada região, pois
ainda são poucos os investigadores que
se dedicam a mapear o estado da arte da pesquisa.
Isto é evidente quando se trata da problemática
da recepção, no entanto, observa-se
na Argentina um esforço desse gênero.
É o caso do estudo de Florencia Saintout
(1998) que ao mapeamento das principais correntes
apresentadas na primeira parte deste capítulo,
acrescenta os trabalhos das conterrâneas
Beatriz Sarlo e Maria Cristina Mata, sem contudo
alinhá-las explicitamente a uma daquelas
perspectivas. Sobre Beatriz Sarlo, diz que é
“daquelas investigadoras, ensaístas,
pensadoras da cultura e da sociedade, da política
contemporânea que mais tem contribuído
ao estudo da comunicação a partir
da recepção” (Saintout, 1998:
87), citando como seu principal estudo “El
imperio de los sentimientos” (1985). Esta
pesquisa analisa as relações que,
na década de 1915 a 1925, as leitoras
argentinas desenvolveram com os romances populares,
através da identificação
de suas presenças implícitas no
texto narrativo, procurando verificar a que necessidades
eles respondiam. Sobre Maria Cristina Mata, Saintout
(1998: p. 99-110) identifica-a como alguém
que desenvolve seus estudos “entendendo
que a recepção não é
um objeto em si mesmo, mas se trata de um espaço
teórico a partir do qual entende-se a
comunicação”, ou seja, no
sentido que Martín-Barbero propõe
tal questão. Seu principal trabalho foi
a pesquisa sobre o modo como o rádio interpela
a audiência, ou seja, “a natureza
das suas propostas identificatórias e
comunicativas formuladas aos setores populares
urbanos e o sentido que elas adquirem na construção
desses sujeitos como atores sociais”. (Saintout,
1998: 99).
Também
com o propósito de realizar um balanço
sobre a problemática da recepção
no mesmo território, estão os trabalhos
realizados por Alejandro Grimson e Mirta Varela,
os quais publicaram juntos o livro “Audiências,
Cultura y Poder. Estudios sobre televisión”
(1999) e, separadamente, ainda que tratando do
mesmo tema, “Relatos de la diferencia y
la igualdad. Los bolivianos en Buenos Aires”
(Grimson,1999) e “Cultura de masas, técnica
y nación. La televisión argentina-
1951- 1969 (Varela, 2004).
No livro escrito
à duas mãos, eles empreenderam
uma análise sobre a investigação
argentina, com o fim de resgatar a gênese
da pesquisa de recepção, onde destacam
várias justificativas políticas
e acadêmicas para o que consideram uma
defasagem dessa região em relação
ao restante da América Latina. Os motivos
para o descompasso são a ditadura, a precária
situação da universidade após
a ditadura e as peculiaridades do campo acadêmico.
O enfoque desse
balanço é a produção
empírica, uma vez que, segundo eles, a
preocupação teórica é
mais antiga, desenvolvida ainda no final dos
anos 70. Naquele período, três revistas15lideravam
o debate, pautado pelo estruturalismo e a teoria
crítica:
As audiências,
a recepção, a instância
de reconhecimento, a resistência dos setores
populares, as lutas pelo sentido, todos foram
modos diferenciados de conceituar as práticas
dos sujeitos em relação aos meios
a partir de distintas linhas de pesquisa que
vão da sócio-semiótica
até a comunicação e cultura
(Grimson e Varela, 1999:49).
Martín-Barbero
e García Canclini são os autores
que mais influenciaram contemporaneamente o debate
argentino, especialmente através dos livros
De los Medios a las Mediaciones (1987)
e Culturas Híbridas (1989)16.
No entanto, o debate inicial teve forte influência
das formulações de Eliseo Verón
que, nos anos 70, incluiu a “instância
do reconhecimento” na sua conceituação
da semiose social. Isto, para os autores, foi
“uma das articulações teóricas
mais sistemáticas e originais no campo,
tanto na Argentina como na América Latina”
(Grimson e Varela, 1999:85). Em termos empíricos,
Verón mostrou que os textos televisivos
não são produtos autônomos
das expectativas e reações das
audiências, ou seja, há um “sistema
de relações entre uma certa economia
discursiva e suas condições de
produção e de consumo” (idem:
86).
Resguardadas
as peculiaridades locais17,
segundo Grimson e Varela (1999: 96), a Argentina
acompanhou a tendência geral desenvolvida
na América Latina, a qual inicialmente
interessa-se pelas culturas populares, como modo
de pensar os sujeitos e suas relações
com o poder e com os meios, mas tal perspectiva
perde o ímpeto frente a outros modos de
propor as relações entre culturas
e subculturas18.
Assim, a motivação inicial das
pesquisas sobre as audiências buscava politizar
a cultura e demonstrar a relevância dos
processos simbólicos para constituição
da própria política (Idem: 43).
Faz parte, ainda, dessa tendência, a consolidação
dos estudos de recepção como um
campo autônomo, evidenciada por suas diversas
formas de institucionalização (publicações,
grupos de trabalho, seminários etc), bem
como uma análise delimitada às
relações com a televisão.
Portanto, não estão enquadrados
em tal problemática os estudos sobre literatura
popular, os de perspectiva histórica relativos
aos problemas da leitura e os de audiências
radiofônicas, que inseriam-se em uma tradição
de estudos alternativos na América Latina.
À
guisa de conclusão
O
que distingue a pesquisa como uma prática
reflexiva da prática da política
é que ela permite aos praticantes o exame
de várias hipóteses, que podem
ser refutadas sem causar numa tragédia
pessoal ou profissional.
Klaus Jensen
Sobre a sistematização
apresentada, reconhecemos que hoje não
se poderia incluir no âmbito específico
dos estudos de recepção os desenvolvimentos
sobre o consumo cultural, especialmente os propostos
por García Canclini, e os estudos realizados
por Jorge González. Explica-se que foram
incluídos nessa rubrica na medida em que,
de alguma forma, resgatavam uma determinada experiência
dos sujeitos e/ou suas relações
com os meios, questões emergentes na época
de divulgação do referido artigo
tomado como eixo para organizar o mapeamento
das tendências latino-americanas dos estudos
sobre as práticas de recepção
midiática. No entanto, vale anotar que
a classificação escolhida para
apresentar as tendências latino-americanas
deve-se à sua adoção ampla
para identificar o campo, o qual, como seu correlato,
merece reconsiderações com o passar
do tempo. Aquela proposta de classificação
foi produzida em meados da década de 90
quando se esboçavam as alternativas para
tratar das relações entre meios
e audiências e quando ainda não
havia o entendimento pleno das variações
de amplitude entre distintos tipos de enfoque.
Recuperando
os princípios de classificação
de Jensen e Ronsengren (1990), podemos pensar
que as propostas de García Canclini e
González estão mais em sintonia
com uma tradição sociológica,
onde, sobretudo, devido ao uso de técnicas
de padronização de dados, realizam-se
levantamentos, estabelecendo relações
entre variáveis, flagrando, desse modo,
uma determinada realidade sobre o consumo cultural
mais do que o exame de práticas de recepção
propriamente midiática.
Observa-se que
no campo acadêmico da comunicação
a proposta de García Canclini para estudar
o fenômeno da recepção não
frutificou. Da reflexão desse autor, o
destaque deve ficar na sua formulação
sobre a hibridez das culturas, pelo menos no
que diz respeito aos estudos de meios, embora
sua proposta teórica para estudar o consumo
cultural pudesse ter rendido elementos para entender
a recepção dos meios.
É preciso
noticiar também que os principais autores
que nortearam os estudos na América Latina
motivaram críticas que contribuíram
para o desenvolvimento do campo, sempre necessárias
para que os consensos teóricos não
se cristalizassem. Por exemplo, os críticos
de Orozco afirmam que sua proposta é tributária,
ainda, da tradição positivista,
pois seu modelo das multimediações
não passa de estudo das influências
(SAINTOUT, 1998). Além disso, ele não
privilegia a estrutura social e de poder (LOPES,
1995) e está aquém da compreensão
sobre a produção de sentido (HERRÁN,
1994). Outros vão mais longe e dizem que
sua proposta não só é inadequada
para operacionalizar os conceitos propostos por
Martín- Barbero, maneira como foi apresentada
ao campo, como desvirtua sua teoria. O próprio
Martín-Barbero já se posicionou
dizendo que
A acusação
que faria a Guillermo Orozco, e a muita gente,
é que por mais que tenha desmembrado
o conceito de mediação (tecnológica,
familiar, etc), contudo, acaba analisando unicamente
a relação com o meio.... Está
bem, aqui está a família, lá
está a escola, mas ao final o que se
está estudando como determinante é
a relação com o meio (Apud SAINTOUT,
1998: 161).
A respeito de
Martín-Barbero, a primeira crítica
a seu trabalho seminal originou-se em García
Canclini (1987) que advertia sobre “a tentação
pelo popular” e que não aplicava
“um estilo crítico à cultura
urbana” (Apud GRIMSON e VARELA, 1999: 75).
Na verdade, essa observação adiantou
o que viria a acontecer no desenvolvimento, ou
melhor, na utilização dessa proposta
na pesquisa empírica desenvolvida no continente.
Por essa razão, nos parece mais importante
do que a observação em si mesma,
o fato da incorporação do pensamento
barberiano na investigação sobre
as práticas de recepção
midiática, ou seja, o seu entendimento
como uma teoria da recepção, o
que consideramos um equívoco. Do nosso
ponto de vista, a reflexão barberiana
propõe um arcabouço para pensar
a comunicação como um todo e não
só a recepção, associando-se
a uma tradição teórica crítico-cultural
(GUREVITCH e KAVOORI, 1994).
Nesse mesmo
sentido, ou seja, de observar no desenvolvimento
das distintas abordagens sua inserção
no campo das teorias da comunicação,
verificamos que tanto as proposições
de Orozco quando as do CENECA não se encaixam
perfeitamente nem na tradição sócio-científica
nem na crítico-cultural, pois se caracterizam
mais propriamente como propostas político-pedagógicas,
assumindo um caráter de intervenção
social.
Para encerrar,
remetemo-nos à análise de Martín-Barbero
(1999: 19), principal articulador de mudanças
importantes ocorridas no campo, que identifica
três condições para que os
estudos de recepção dêem
conta da complexidade desse fenômeno. São
elas:
A inserção
do processo de recepção em uma
história cultural que dá pano
de fundo e contexto às práticas
de leitura e consumo; a importância dos
gêneros como articuladores de práticas
de recepção com o espaço
e as lógicas da produção,
bem como de estratégias de antecipação
das expectativas e pacto simbólico entre
a indústria e os públicos; e o
resgate dos atores sociais ‘concretos’
que participam em e se refazem com o processo
de recepção, entendido como processo
de produção e intercâmbio
cotidiano de sentido.
Portanto, estudar
os processos de recepção é
muito mais do que reconstituir empiricamente
essas práticas mediante a recuperação
das falas dos sujeitos-receptores o que, em grande
medida, a pesquisa latino-americana precisa superar,
embora não esteja sozinha neste impasse.
Notas:
*
Este texto é uma versão do segundo
capítulo do livro Comunicação
e Recepção, das autoras, editado
por Hacker Editores, São Paulo, 2005.
1 Embora de maneira desequilibrada
entre os países da América Latina
e entre as regiões de cada país.
No caso brasileiro, destaca-se como foco de divulgação
do que, naquele momento, foi denominado de “estudos
de comunicação e cultura”,
sobretudo o ambiente acadêmico da Escola
de Comunicações e Artes da Universidade
de São Paulo e do então Instituto
Metodista de Ensino Superior, em São Bernardo
do Campo. Isso ocorre em especial no final dos
anos 80.
2 Muitos pesquisadores
estrangeiros interessam-se pela proposta latino-americana
em formação (SCHLESINGER e MORRIS,
1997; FOX, 1996; TUFTE, 1996; JONES, 1996). Alguns
periódicos científicos publicados
fora da América Latina também dedicaram
atenção a esta produção
nos últimos tempos – entre eles,
Telos, Borderlines, Media, Culture and Society.
Além disso, encontros científicos
tanto na América Latina quanto fora debateram
a questão.
3 Martin- Barbero
redimensiona e atualiza suas proposições
em um texto posterior (1999b: 2-25).
4 José
Aricó, em “Geografia de Gramsci
na América Latina” (COUTINHO e NOGUEIRA,
1988) comenta a impossibilidade de falar de maneira
singular da influência deste autor no continente,
pois a diversidade de realidades levou a uma
pluralidade de apropriações de
sua teoria.
5 González
(apud VÉLEZ, 1992:149) considera que faz
também “uma reflexão filosófica
hermenêutico-fenomenológica que
alguns chamam de etnometodologias, como as fenomenologias
sociológicas e a sociologia cognitiva,
que é precisamente a sociologia do sentido
comum”.
6 Para detalhamento
ver “Navegar, naufragar, rescatar entre
dos continentes perdidos. Ensayo metodológico
sobre las culturas hoy. GONZÁLEZ, Jorge
e CÁCERES, Jesús Galindo. (Coord.):1994
7 O Centro
foi criado em 1977 e o Programa em 1982, o qual
tem três linhas de trabalho: atividade
educativa, identificação da demanda
cultural para a televisão e pesquisa de
recepção .
8 A opção
pelo termo “ativa” e não “crítica”
na denominação desta linha de atuação
é para enfatizar o esforço da atividade
semantizadora e a expressividade cultural dos
receptores (SAINTOUT, 1998: 143)
9 Ver WILLIAMS,
R. Keywords: A vocabulary of culture and society.
Londres: Fontana Press, 1988; SIGNATES, Luiz.
Estudo sobre o conceito de mediação.
Novos Olhares, n 2, 1998, p. 37-49.
10 Para uma
noção sobre o desenvolvimento do
modelo, proposto pelo próprio autor, durante
sua aplicação empírica ver
DORNELES, Luciana (2003).
11 Nesta
perspectiva, o conceito foi trabalhado primeiramente
pelo pesquisador norte-americano James Lull que
o utiliza como instrumento analítico para
explorar as interações entre os
contextos macro e micro nos processos de recepção.
Para evitar uma racionalização
dualista entre macro e micro, Orozco considera
estes níveis como "fontes de mediação".
(OROZCO, 1994:71)
12 Para maior
detalhamento consultar OROZCO, 1991.
13 É
preciso salientar que no Brasil foi desenvolvido
o Projeto de Leitura Crítica da Comunicação
(LCC) pela União Cristã Brasileira
de Comunicação Social (UCBC), com
apoio do Serviço à Pastoral da
Comunicação das Edições
Paulinas, durante a década de 1980, sob
forte influência de Paulo Freire.
14 Observa-se
que o desenvolvimento dos estudos culturais deve
ser visto resguardando as diferenças regionais,
portanto, as investigações sobre
consumo cultural, por exemplo, no contexto britânico,
constituíram-se fora dessa tradição.
15 “Lenguajes”,
“Comunicación y Cultura” e
“Crisis”.
16 Para Grimson
e Varela (1999: 76) “Culturas Híbridas”
e “De los medios a las mediaciones”
foram os trabalhos mais importantes de sistematização
e síntese das mudanças ocorridas
nos anos 80, os quais guiariam as pesquisas dos
anos seguintes.
17 Os autores
ressalvam que a produção argentina
está entrecruzada com teorias vinculadas
à literatura, filosofia, sociologia e
antropologia. Em outros termos significa dizer
que, sem reivindicar nenhum localismo, a experiência
argentina correu paralela aos estudos culturais
britânicos, que foram ignorados em seu
país, resultado de uma especificidade
histórico-cultural (1999:44).
18 Para os
autores, as proposições de Canclini
seriam a base deste novo enfoque.
Referencias:
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Sergio. La recepción ya no alcanza. In
CORTÉS, Carlos Luna (coord.) e SOLIS,
Beatriz y Núñez, Luis (editores)
Generación de conocimientos y formacion
de comunicadores, FELAFACS, 1992.
COUTINHO, Carlos Nelson; NOGUEIRA, Marco Aurélio
(org). Gramsci e a América Latina.
Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1988.
DAYAN, Daniel (comp.). En busca del público.
Barcelona, Gedisa, 1997.
DORNELES, Luciana B. Adolescentes privados
de liberdade e a Televisão: Estudo do
Meio como Mediação, Dissertação
de Mestrado, PPGCOM/ UFRGS, 2003.
DOUGLAS, Mary e ISHERWOOD, Baron. El mundo
de los bienes. México, Grijalbo,
1990.
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Dra.
Ana Carolina Escosteguy
P rofessora da Faculdade de Comunicação
da PUCRS, Pontificia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul, Brasil.
Dra.
Nilda Jacks
P rofessora da Faculdade de Biblioteconomia e
Comunicação da UFRGS,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Brasil. |